31 julho 2007

Balanço II - 7 anos em Coimbra
















Confesso-me em balanço. Tem de ser. Porque senão a vida passa muito rápido e não sabemos o que nos aconteceu.
Escrevi uma lista, para mim. Tal e qual por esta ordem, tal e qual como me lembrei e como aqui aparece.

Enfermagem (2000)
Paris
Açores
2 vezes Madrid
Interrrail zona D (Polónia, Hungria, Bósnia, República Checa, Croácia, Eslováquia)
Londres
Viena
Barcelona
CITAC – participação numa peça
Voluntariado 7 semanas em São Tomé e Príncipe, com a Bússola
Workshop artes circences e workshop Clown
6 campos de férias com Mocamfe
Representante de Coimbra na Equipa Nacional do MCE (2000 e 2001)
Directora da revista Comtextos (2004 e 2005)
Reuniões, encontros nacionais, acampamentos… sem conta possível!
Capoeira
3 blogs

Não contando fins-de-semana / férias de norte a sul, litoral e interior.


Nada desta lista diz do que possa ter aprendido ou sentido. Nada diz de quem esteve comigo ou do que assisti ou li. Nada diz do que adorei ou do que resmunguei. Nada diz do que não percebi.
Mas ainda assim publico aqui. Porque qualquer amigo que aqui me leia poderá encontrar um lugar onde estivémos juntos nestes 7 anos. Penso muitas vezes que podia ter escolhido fazer o curso fora de casa... que podia ter conhecido e feito muitas outras coisas. Parece que é sempre muito pouco. Embora MUITO cheio! :)

E juro que ainda vou fazer balanço do curso. (difícil saber...)

Balanço I














Ontem perguntaram-me, sem eu contar:
- A sua profissão?
E eu fiquei toda atrapalhada. (Parvoíce, é o que penso agora.)
Mas ri-me, cocei os caracóis, embaraçada disse:
- Não lhe sei responder à pergunta... estou mesmo a acabar o curso, sabe... mas também ainda não sou licenciada e muito menos médica... hum... pois, ponha estudante que é o que eu faço até Dezembro.

Será que me vou habituar um dia?

30 julho 2007

Dia triste para o cinema



Ernst Ingmar Bergman (Uppsala, 14 de Julho de 1918 — Fårö, 30 de Julho de 2007) dramaturgo e cineasta sueco.
Ouvi na rádio que morreu. Fiquei triste. Vida cheia de cinema, de fabuloso cinema (não sou eu que o digo, assim como não fui eu que o chamei o cineasta das mulheres mas parece-me muito bonito). Triste de ele não ir filmar mais.
Conheço pouco. Muito pouco. Mas lembro-me que me disseram que valia a pena ir ao Alvaláxia ver (a única sala em Portugal que o iria projectar, e na bilheteira perguntei... tinha a ver com a tecnologia de projecção que tinha de ser a melhor). E eu fui. Num dia difícil. Fui sozinha. Não esqueci mais aquela filmagem, os tons de Outono. Aquele sítio que queria conhecer. Aqueles dois velhos que reconheciam um amor longínquo. Os violoncelos. Aquelas duas casas maravilhosas.

Disseram-me, um ou 2 anos depois, com displicência, que era demasiado amargo para a minha idade. Não respondi, mas fiquei irritada.







(clicar para ver as fotografias maiores)

27 julho 2007

história




.

Sabe bem ficar só a ouvir. Sempre gostei de ficar a ouvir histórias. Italiano.

26 julho 2007

malícia









As meninas boas vão para o céu, as más
para toda a parte.


Confesso que estou com esta frase na cabeça :)

23 julho 2007

Bem-me-quer




Ela perguntou "estás a cantar esta música?".
É que a música descia do sótão e ela admirou-se nos seus olhos bonitos.
Depois disso lembro-me sempre dela quando oiço.
É bom lembrar-nos de quem nos quer bem.
Hoje é dia de ser eu a dizer bem-te-quero. Viagem.

21 julho 2007

Manha



Astúcia; habilidade; arte; destreza; ardil; artimanha; engano; dolo; segredo; mania; pl. costumes.
Gosto da palavra. Gosto dos significados.
Há dias, como este, em que apetece mesmo.
Depois há o momento em que se é descoberto, entre o embaraço e o soltar a gargalhada.

19 julho 2007

"produtor de imagens" com rédea solta"

"O espectador contemporâneo é uma criatura mimada desde o berço com historinhas muito bem contadas no princípio, no meio e o no fim."



No intervalo do filme ouvi, curiosa, que David Lynch em vez de seguir uma história, cria várias possibilidades para cada momento, para cada cena e depois troca a ordem, numa sucessão de cenas que não sabemos reais ou ficcionais (dentro do próprio filme) que não sabemos nunca se estamos a ligar bem.
Li "Rouba-se a história ao espectador, e ele é obrigado a ver o filme" e devolve-se aos espectadores "o espanto e a alucinação sentidos pelos espectadores das primeiras sessões de cinema - que não se espantaram nem se alucinaram pelas histórias que lhes contavam, mas por outra coisa, e essa coisa é aquilo de que nos sentimos próximos em "INLAND EMPIRE".

Durante as 3 horas sofri bastante. Pelo susto, pelo medo, pela falta de sentido, pela falta de paciência... por estranhezas como a única personagem doce do filme ser um actor pelo qual tenho particular antipatia: Jeremy Irons.
É o segundo filme que vejo que me faz lembrar os meus sonhos (o outro, por mera coincidência, chama-se: Os sonhadores, de Bernardo Bertolucci) uma série de corredores, locais escuros onde se abrem portas e mais portas cada vez mais inesperadas, sempre com os corredores pelo meio a meia luz. Palácios. Casas com crianças. Jardins. Casas de banho. E depois das portas há histórias diferentes, personagens diferentes... ou as mesmas caras sempre em personagens desiguais. As cenas mais bonitas. As cenas mais terríveis. Sem sequência mas com revelações extraordinárias.

Sofri bastante. E não aconselho a ver em pequeno ecrã.
A sorte num dia em que me apeteceu mesmo ir ao cinema sozinha.
(ir ao cinema apenas com a minha própria expectativa)


citações: Luís Miguel Oliveira (Público)

17 julho 2007

Paragem

















Fernando Nobre...
"Após (…) mais de 120 países, dos quais cerca de 60 em missões humanitárias concretas (pelos Médecins Sans Frontières e pela AMI) , após ter visto e sofrido a presença de milhares de mortos e ouvido os choros, risos, gritos e protestos quase sempre silenciosos de milhares de pessoas de todas as raças, culturas e credos, dos Himalaias ao Sahel, da Amazónia ao Sara, da Papua a Manhattan, do Nilo ao Ganges, de Jerusalém à Babilónia… após ter presenciado in loco o trágico 11 de Setembro de 2001."

Consegue escrever:
"Quero deixar claro (..) quais são as minhas opções: a Liberdade e a Solidariedade."

"Porque acredito que a Sabedoria se sustenta na força das acções e convicções e na beleza das ideias e das utopias generosas; e porque sou um optimista informado e inveterado, quero crer que, como terá dito seguramente um sábio, «o optimismo da vontade se sobreporá ao pessimismo da razão»."


Depois de um serão que me disse exactamente aquilo que eu sentia e nunca mo tinham dito. Não adianta pensar que partimos (seja África, América do Sul, Ásia) e vamos levar alguma coisa, quanto mais pensar que mudamos coisa alguma. As coisas estão lá, existem lá. E antes de qualquer coisa é preciso estar muito tempo, despir-nos, encontrarmos as gentes, perceber a linguagem e os símbolos.
Nesse encontro... nesse explicar muitas vezes quem somos, ouvir quem são, explicar outra e outra vez, ser questionado, ser abanado, perguntar, ser ferido, ser gostado.
Desse encontro...

Sair muito mais eu. Sair muito menos eu.

Utópica. Romântica. Optimista. Assim sim.

16 julho 2007

Redécouvrir



Fecha-se o dia.
Sensação de que há coisas que se repetem e aprendo a vivê-las de forma diferente. Faz parte de quem é insegura não saber se é desta que se vive bem.
Fecha-se o dia e é bom ouvir esta música. REPEAT.

(yann tiersen, está mal escrito)

14 julho 2007

Imagina





2 coisas boas no dia de hoje.

13 julho 2007

Perigo, trabalhos em curso!












Acabei de saber que tenho oral na Segunda-feira.
Como qualquer obra que se preze em Portugal, o aviso de perigo está mesmo-mesmo em cima do acontecimento e as obras feitas à pressa nunca corrigem completamente os longos anos de buracos.
Esvaziei a minha secretária, início limpo.
É a última oral do curso.


Por baixo devia dizer “IMPRÓPRIA PARA CONVÍVIO"

12 julho 2007

Tutankhamon




Foi o nome que lhe demos, foi o nome que para mim ficou, não mais pelo significado inicial, apenas porque a palavra soa bem ao dizer e combina com aquele homem velho, magro, sereno, de sorriso simples.
Tutankhamon foi como todos, mesmo todos, o conheceram pelas minhas histórias, pelas minhas preocupações, pelo carinho que não fiz por disfarçar.
Tutankhamon, sendo um homem que nunca tinha conhecido, fez-me ver:

- que posso tornar numa acérrima defensora dos meus doentes;
- que me enfureço pela desatenção que lhes possam ter;
- que posso acordar com vontade honesta de ir trabalhar e saber como passaram a noite;
- que é bom demorar mais tempo a fazer o diário clínico porque assim faço companhia;
- que as minhas perguntas podem parecer muito ridículas a um Sr. que diz ter mais de 100 anos e que, de facto, o são para quem aceita ser velho.

Este homem fez-me confirmar que é um disparate a tendência que existe para infantilizar os doentes, que é bom ter uma relação que é simples (como aquele sorriso), que é optimista, que respeita o tempo de vida e os saberes de cada um. Apenas.
Estive na vida do Tutankhamon durante 6 semanas. Um dia depois de ter mudado de enfermaria ele faleceu. Eu soube (penso que não por acaso) pelo jornal, numa secção que nunca tinha lido.
E não, não encontro sentido.

10 julho 2007



Não precisaram de me dizer. Lembro-me desde sempre. Lembro-me de olhar para as coisas em casas que não eram a minha, eu era toda curiosidade de pegar, mas antes pensava “cuidado, desta vez não partas”… mas as coisas ganhavam vida e partiam mesmo. Olhos repreensivos de quem me conhecia quase como filha.
Cá em casa uma zangava-se dos meus estragos; a outra gozava da falta de jeito repentino que sem esperar me atacava; ele primeiro danado, depois num ligeiro sorriso de quem se reconhece em alguém mais pequeno.
Há quem se aproxime, anos depois de não nos vermos, a dizer entusiasmado “lembras-te quando íamos dormir ao relento e resolveste fazer uma roda e estatelaste-te de costas lá no fundo de uma ribanceira de 2 metros?”.
Outros irritam-se, sabendo que eu podia ao menos tentar emendar-me.
Já me descreveram o desastre como delícia, achando que era a quebra perfeita em quem parece não partir um prato e também sabe ser delicada.

Quanto a mim… só posso dizer que me surpreende tanto como a quem me observa.
E com a surpresa dou uma gargalhada (se não me magoar muito!).
Se pensar, não gosto. Mas não consigo ser aplicada nos exercícios de bem-comportada.


the strokes / filme Marie Antoinette / What Ever Happened
fotografia: barcelona 2007

bicharada estranha



Se há coisa que me chateia é o “Faz tu que tens mais jeito.”
Mascara-se um suposto elogio para disfarçar uma verdadeira preguiça ou falta de vontade. E este suposto elogio depois prolonga-se por todas as vezes que for necessário, porque quanto mais uma pessoa faz mais o jeito se afina.
Raios parta que me apetece mesmo fazer caretas hoje.

09 julho 2007

Editorial

“Quando me surpreendo ao fundo do espelho assusto-me.
Mal posso acreditar que tenho limites,
que sou recortada e definida.
Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas,
vivendo nas coisas além de mim mesma.
Quando me surpreendo ao espelho não me assusto
porque me ache feia ou bonita.
É que me descubro de outra qualidade.”

Clarice Lispector

Vivendo as coisas além de mim mesma. Paro um pouco na frase. Oiço-a no seu percurso um pouco rápido pelos meus pulmões onde aquece um pouco e depois rebola, fazendo barulho, para a barriga: o lugar que nos lembra sempre que viemos de outro alguém. Um pequeno buraco no meio da barriga existe apenas para nos lembrar. Talvez nos lembre também a nossa vontade de criar outros. Talvez. A frase novamente. Existe muito ruído no tempo que temos para sermos apenas connosco. Músicas mal ouvidas: sem atenção à letra. Cinema de distracção: sem um diálogo ou imagem que ecoe cá dentro. Um texto lido à pressa, sem nos questionar. Alguém que fala apaixonadamente, sem nada retermos (nada voltaremos a ter). Sento-me com a frase. Uma paisagem à minha frente e, sem querer, já não vejo a paisagem, ou oscilo entre me deliciar com ela e entrar em mim. Como numa estrada com curvas onde seguimos calados.
“Também me surpreendo, os olhos abertos para o espelho pálido, de que haja tanta coisa em mim além do conhecido, tanta coisa sempre silenciosa.” (Clarice Lispector). Do que conhecemos de nós, para a estranha imagem ao espelho. E dessa pálida imagem, para nós novamente: cores vivas. Do corpo, onde já viajámos (e as viagens são sempre incompletas) para nós, para essa primeira qualidade que só encontramos nos nossos silêncios povoados. Silêncios povoados das nossas palavras, dos nossos tempos, dos nossos trilhos invisíveis. Essa outra qualidade que nunca encontramos, nunca nos pertence em pleno, além do conhecido. TEMPO PESSOAL.
















Lembrei-me deste texto que escrevi há mais de um ano.
início do Editorial do 44º Comtextos: Mergulho em Mim, da colecção Lugares que nos habitam.

04 julho 2007

o discurso do presidente

Este é um post antigo. Um rascunho por aqui perdido desde Maio...
E eu que não gosto nada de rascunhos!
Peço desde já desculpa a quem não se interessa por uma destas duas coisas:

- neurologia;
- as formas como entendemos as outras pessoas, como as descobrimos e lemos.



A história começa com o som de gargalhadas vindo de uma enfermaria de afásicos (são pessoas que, por diferentes motivos, não compreendem as palavras, não percebem o seu significado. Aprendem a viver e a disfarçar essa incapacidade guiando-se pelo tom da conversa que se lhes dirige, e quando falam usam palavras coloquiais). Assistam ao discurso do presidente na televisão.
Médicos e enfermeiros não entendiam, o discurso era perfeitamente normal. O presidente transbordava de simpatia e usava toda a sua retórica para conquistar a audiência. Aquele grupo ria.
Quem escreve esta história verídica explica: «Pode-se mentir com a boca», escreveu Nietzsche, «mas com a expressão dizemos sempre a verdade.» Os afásicos são imensamente sensíveis à expressão, a toda a falsidade ou atitude imprópria do corpo ou da postura. São as expressões, o dramatismo, os gestos falsos, mas acima de tudo, é a cadência e a entoação das vozes falsas de que se apercebem os afásicos. Embora não percebam as palavras, as grotescas incongruências e falsidades são óbvias para eles.
Era por isso que se riam do discurso do presidente.




Mas...
Entre eles, estava uma senhora com o problema inverso (agnosia tonal), ela perdera a sensibilidade à expressão e entoação tendo mantido a capacidade de compreender as palavras. Tinha sido professora de inglês e poetisa de reputação.
Explica o autor: Ela não sabia se o presidente estava a usar um tom de voz triste, alegre, zangado... Podia olhar para as caras das pessoas, para as suas posturas e movimentos enquanto falavam, mas os seus olhos já a atraiçoavam e Descobriu então que tinha de prestar uma enorme atenção à exactidão das palavras e ao uso das palavras e insistia que todos à sua volta fizessem o mesmo (…) «Palavras definidas em lugares definidos.» (…) O sentido era totalmente dado pela escolha atenta, e referência cuidadosa, das palavras. No final do discurso disse: «Ele não é coerente», observou. «Não fala em prosa correcta. O uso que faz das palavras é impróprio. Ou tem uma lesão cerebral ou tem algo a esconder.»

Os únicos que perceberam que o presidente mentia foram os que tinha lesões cerebrais.
FORAM ELES OS MAIS LIVRES.



O livro citado: O Homem que confundiu a mulher com um chapéu.
O autor: Oliver Sacks.

01 julho 2007

Museus






















Barcelona 2007

Que coisa... sempre que calha rever esta imagem penso exactamente o mesmo que pensei quando encontrei esta frase junto à praia.Eu gosto de museus. Não demasiado grandes, não demasiado tempo.Com calma gosto. Com luz, com janelas enormes para jardins. Com paredes brancas. Com peças que goste, que digam qualquer coisa cá dentro.

Mas também não quero que seja inofensivo.