30 agosto 2007

Chuva


















Há cerca de uma semana que todos os dias antes de abrir a persiana penso "quem dera que estivesse a chover MUITO, uma tempestade!".
Nem sou dessas coisas, mas não é que não chove?



A noite em Aveiro trouxe esta música,
como eu ouvia dexy's há... bem, o primeiro era um vinyl!

29 agosto 2007

Balanço curso

(é apenas um possível. com mais uns anos outros balanços farei)



A única altura em que me lembro de ter querido ser médica foi bem pequena, e o que eu queria era ser médica sem fronteiras.
Não mais o quis.



No secundário eu fui sempre aluna do meio para trás na sala. Porque assim dizia o meu número, e era muito ajustado. Estava atenta quando queria, distraída quando queria.
Não tenho ideia de ter sido alguma vez boa aluna. De me sentir boa aluna. Sempre soube que me podia esforçar mais. Sempre houve quem fosse melhor. E, admito, tinha um certo orgulho de fazer outras coisas além da escola… e não eram “actividades”, eram coisas onde tinha responsabilidade e não podia falhar, coisas que me envolviam mais.



Cheguei a enfermagem. Não gostei da escola. Ano de muitas outras mudanças levou por arrasto a vontade de mudar dali também, não sabia para onde. Voltei ao livro dos cursos todos do país. Sociologia? Antropologia? Mas isso para a vida? Perdida… eu gostava de saúde, porque não medicina? Sem muita certeza na escolha, entrei.



Passei o curso todo a pensar que talvez devesse mudar de novo. Sempre levando junto a mim a ideia “provavelmente não vai ser nada disto que eu vou fazer na vida” mas sem saber o que fazer em vez... Sofri algumas vezes com a certeza da minha ignorância, com a sensação de desajuste. Todos pareceram sempre saber tão bem o que queriam, sempre. Continuei a sentir mais entusiasmo pelas coisas que não eram do curso e aí procurava superar-me. E cá dentro isso servia (pouco) de desculpa para não ser boa aluna… insatisfação.



Hoje. Decidi que é médica que quero ser. Sei que não quero ser nada menos do que muito boa médica (de outra maneira não vale mesmo a a pena!). Sei que tenho algumas qualidades que me vão ajudar a pertencer e fazer boas equipas, sei que sou exigente o suficiente para mudar as coisas para melhor, não tenho medo de trabalhar. Sei que sou mais exigente comigo e que isso me vai obrigar a ser sempre mais competente, ainda que morra mil vezes antes. Alguma diferença gostava de marcar.
Sei que tenho tudo para aprender ainda. Sei que a única coisa que tenho é preocupação sincera, sei que gosto de fazer as histórias clínicas sozinha e de as apresentar de forma impecável (o que não é nada fácil porque se o médico que nos ouve for bom vai encontrar sempre muitos erros). Sei que vivo intensamente resultados, melhoras e pioras dos "meus" doentes. Sei que paro muitas vezes a pensar que aquela pessoa estaria melhor em casa…
Sei que sou crítica, muito crítica (o que é muito mau)… mas também sou optimista. Não gosto da forma como, por vezes, me chamam utópica mas gosto de o ser.
Sei que falo verdade quando digo que não é uma profissão mais importante que as outras, que não é mais difícil, que não deve ser mais bem paga. Sei que o princípio da medicina é trabalhar muito para quem precisa e não estatutos, admirações e auto-vanglorizações.
Sei que não vou sobreviver sem fazer as outras coisas de que gosto e que não fazem parte da panóplia de opções “descansar”. Terei de encontrar como.
Sei que tenho tudo para aprender. Mas também sei que a escolha foi MINHA… cerro os dentes e aí vamos.

26 agosto 2007

Modelo de virtudes V



Talvez seja mesmo dele que me lembro sempre que penso em pessoas que, independentemente da vida curta, desregrada, desmedida, exagerada… fizeram qualquer coisa extraordinário, contagiante.
(gostando ou não das músicas não dá para negar)
Talvez sejam eles que mais me deixam aliviada por o rádio do carro ser tão mau que só o ligo quando estou sozinha.
Freddie Mercury (1946-1991)

24 agosto 2007

Modelo de virtudes IV















Esta mulher tinha uma garra incrível. Força da natureza.
E esta música deixa-me sempre bem disposta.
Cássia Eller (1962-2001)



(não sei porquê é preciso esperar um pouco até que a música comece!)

Bolhas


Tenho trocado o tempo na internet pelo tempo assim. 45 minutos todos os dias a nadar. As teorias dividem-se... Pode ser para as dores de costas de estudar que me prometeram. Pode ser para fazer os 30 minutos de exercício diário moderado a intenso que se exige para contrariar as doenças cardiovasculares (já acabei de ler cardiologia!), ou para simplesmente gastar a energia contida durante as horas que estou sentada. Pode ser para me amansar. Pode ser para me cansar e depois ficar bem alegre. Pode ser para descontrair. Pode ser para pensar. Pode ser para me apagar o cérebro durante 45 minutos. Pode ser para ficar a observar como o ser humano não foi feito para nadar, ficar curiosa a olhar os corpos debaixo de água... e depois sorrir do desajeito ou me surpreender de como pode ser bonito, leve.

Acho que tem sido de tudo um pouco. Ter trocado as secretárias pela sombra da nespereira da quinta soube-me pela vida. Estou de volta. Natação continua.

21 agosto 2007

Modelo de virtudes III



Inacreditável a quantidade de pessoas que estas músicas me lembram!
Jim Morrison (1943 - 1971)

17 agosto 2007

Modelo de virtudes II



E quem se atreve a dizer o que seja da vida de quem canta assim? Por mim fico feliz com a música, com as caretas bonitas que faz, com a voz, o sorriso aberto.
Parabéns a ela, hoje, porque não?
Elis Regina (1945-1982)

Modelo de virtudes


É bem verdade que certamente não deve ter sido nenhum modelo de virtudes (se bem que isso quase sempre acrescenta muita graça às pessoas, estou plenamente convicta disso) mas lá que estas músicas e danças dão muita energia lá isso dão!

Elvis Presley (1935-1977)
30 anos

11 agosto 2007

seu ansioso lugar





Alegre triste meigo feroz bêbedo
lúcido
no meio do mar

Claro obscuro novo velhíssimo obsceno
puro
no meio do mar

Nado-morto às quatro morto a nada às cinco
encontrado perdido
no meio do mar
no meio do mar

Mário Cesariny

Gosto muito das 4 primeiras palavras. Sabe bem reencontrá-las.
Gosto de lucidez também. Que é bem diferente do suposto realismo que as pessoas têm a mania de dizer que têm.
No meio do mar.
Admiro quem se mantém puro envolvendo-se no mundo, nem sempre bonito.
MORTO A NADA é coisa muito boa.
Encontrada perdida é meu estado natural. Tranquila. Uma certa preguiça hoje.


Esta imagem é do filme The Million Dollar Hotel, do Wim Wenders.
Não queria uma imagem a preto e branco. Uma das coisas mais bonitas deste filme, além desse lado escuro da vida que pode ser louco (porque se vive muito no limite e não se sabe bem porquê) mas onde se encontra também a delicadeza, foram as cores... e as janelas! Eu quero ter uma casa com janelas assim.

04 agosto 2007

tudo é experiência!

"A minha secretária e a agência de viagens sabem que quando viajo (vou sempre em classe económica) peço para ficar instalado num hotel de duas ou três estrelas, limpo, com casa de banho e que disponha de comunicações fiáveis para o exterior. É verdade que ao longo da minha vida humanitária já tenho dormido em «hotéis» inacreditáveis, nomeadamente em El Fasher, capital do Darfur no Sudão, em Gabu, na Guiné-Bissau, e na palhota (em Angola chama-se cubata) em Kulbus, no Chade. Muitas vezes dormi no chão ao relento (os meus hotéis de mil estrelas) até mesmo com costelas partidas… um regalo!
Hoje sei que me posso adaptar a qualquer situação. "

Fernando Nobre, fundador da AMI Portugal.

É esta frase que espero dizer um dia, não muito longe.
É mesmo isso que conta, juntando a um trabalho em medicina muito sério, sentir que estamos preparados para viver quase tudo (“tudo” parece-me sempre demais).

E para isso tudo conta, tudo é experiência! (é o que digo baixinho para mim quando as coisas não correm bem ou quando estão a ser difíceis).
E para isso tudo conta… no outro dia surpreendi-me sinceramente de não sabermos todos como é… dormir numa tenda ou escolher dormir fora dela. Acordar encharcada da chuva ou acordar e correr num mergulho para o rio. Entrar num carro sem destino, vários dias. Quase morrer em ultrapassagens numa camioneta à beira mar (lembrar-me da minha mãe tão longe, se ela me soubesse aqui!). Dormir no chão de um comboio. Fazer as necessidades num latrina de terra 15 dias. Subir uma montanha às escuras, sem lanternas, junto às ribanceiras que só vimos no dia seguinte. Não tomar banho por muitos dias ou ter de ir com baldes lá acima ao rio junto aos porcos. Comer pão com nesquick ou outro dia engolir uma mistura gordurosa que nos prometeram que nos faria vomitar de uma vez. Viajar com amigos e ter de conciliar tudo, viajar sozinha e ter de decidir tudo sozinha. Regatear pequenos negócios (detesto!). Tirar fotografias a pormenores e não às coisas importantes (monumentos e essas coisas de postais). Chegar ao fim de uma linha de comboio e não ter como ir a lado algum, nem para trás… fomos à boleia. Alugar uma casa e ter uma grande conversa e gargalhadas com dois idiomas completamente estranhos e incompreensíveis um para o outro. Escrever num caderno que escolhemos com cuidado. Conduzir horas numa estrada “tolerância-zero” sem conta-km. Beber café solúvel num resto de água fria e sem açúcar. Estar com as pessoas que vivem mal, pobres-pobres – ficar num pequeno lugar de África, e chorar depois. Saber que vamos voltar. Acordar num pais diferente daquele onde adormecemos. Querer explicar ideias e coisas que nos são importantes numas palavras que não são a nossa língua. Ser escolhida e ver aninhar-se no meu colo, pela primeira vez e envergonhado, o miúdo que todos detestam (crianças e grandes) e saber ali, só naquele instante, que ele é o mais bonito e inteligente. Conhecer a sua enorme imaginação e mimo (só quando quer, claro), ficar com fama de ter jeito para rufias depois disso.

As coisas que não lembro agora. As coisas que lembro e não conto.
Tudo o que falta viver ainda… o mundo todo!