30 novembro 2007

Feliz

Se soubesses bebé como já gostavamos de ti antes de nasceres.
Se soubesses como foi bom ver-te nascer, a tua mãe tão serena, o teu pai tão feliz.
Se soubesses como me comovi a ver-te a ser cuidado pela pediatra.
Se soubesses como, ao ter-te no meu colo, pensei "na minha vida acontecem coisas mesmo especiais".

Espero que tenhas sentido, estivemos lá todos.
Espero que estejas a dormir muito bem.
Não sei cantar, mas para ti eu canto baixinho...

28 novembro 2007

Véspera


Foi quando me levantei da mesa.
Estava a música Les Jours Tristes. E o título esconde o optimismo que encontro sempre nesta música. Senti-me subitamente feliz, muito feliz. Ia embora, deixar os rituais de 19 dias bem contados. Quase sempre sozinha. Na casa grande dos avós. Eu e os livros do estudo. E a máquina de escrever do avô. E o sol até à hora de escurecer, às vezes a chuva furiosa até à hora de deitar.
Senti-me subitamente grande. Porque os dias tinham passado e eu tinha cumprido o que queria. Serenamente. Com apenas uma ou outra altura de zanga… aquela minha zanga que não resiste à aventura de ter de me safar quando a água e a luz falham horas a fio e a lareira torna-se refúgio. Ou à sempre surpresa do ratinho a passar, sempre no mesmo sítio, quase sem medo (dele e meu).

Pelo caminho tive de encher os pneus do carro. E senti-me feliz outra vez. Porque gosto da sensação de ficar com os dedos pretos-pretos, de me irritar e arrancar a jante, de pensar a rir “percebo porque é que as pessoas pagam para isto, mas eu não preciso de ajuda!”.

Lembrei-me de, na semana passada, olhar para a bigorna do avô Ratão. E de dizer ao meu pai “Imagino o tempo que ele demorou a montar isto exactamente como ele queria. Escolher o tronco perfeito, ensaiar a posição da bigorna” (que o meu pai explicou que era um bocado de carril de comboio) “Ajeitar, pôr os calços para que ela não dançasse. Imagino-o a rir-se no fim, a mirá-la”. E sem dizer pensei… os Patrícios sempre precisaram de encontrar os momentos de silêncio, de desafio solitário. Sempre precisaram… para depois poderem estar alegres com as outras pessoas. E diverti-me da memória do meu avô a endireitar pregos à martelada aos sábados de manhã. E pensei… os Patrícios precisam todos muito de dormir, mas têm horas desencontradas. Uns deitam-se cedo e levantam-se cedo (o meu avô era assim) e outros gostam de se deitar tarde e levantar tarde. O filho mais novo do meu avô, que é desses, percorria o corredor (eu, do meu quarto, ouvia-o a arrastar os pés). E dizia “Pai, tem de endireitar pregos logo ao sábado de manhã?” E o meu avô respondia com carinho pândego “Ó João, mas eu estou a martelar devagar”. Eu sorria enroladinha nos lençóis e… mais um sono.

Regressei a casa e pensei. Talvez nunca consiga escrever o que uma amiga minha me escreveu: “Fiz tudo o que podia”. Talvez não, acho sempre que não chego a esse ponto. Mas que me esforcei lá isso esforcei. E vai correr mal? É o mais certo. E deixem-se de coisas que eu não me costumo enganar no que sei e no que não sei para exames. Mas também pensei, não é a coisa mais difícil nem mais importante que já me aconteceu. E o que for, será! Que se lixe!
E senti calma.

29 de Novembro: Exame de acesso à especialidade. E eu que nunca acreditei que a véspera deste dia chegasse de facto.

Agora desculpem, mas não resisto a acrescentar que me tenho lembrado várias vezes desta tira :)

(para ver maior clicar em cima da imagem)

05 novembro 2007

FECHOU A LOJA
ATÉ DIA 29 DE NOVEMBRO.

02 novembro 2007

Essencial




















Este ano foi o ano mais insistentemente musical de todos. Porque o tempo a estudar Harrison tem sido muito. Porque é preciso que a música vai mudando. Porque há dias em que só apetece algo perto do silêncio, e outros dias em que se sente que toda a energia só poderá vir do que ouvirmos.

A esta lista, hoje, desvairadamente acrescentei 3 novos CD's, de:

- Chick Corea
- Herbie Hancock
- Beirut

Não é uma lista de gostos, é uma lista ouvida. Infelizmente ainda não consigo estudar com letras em português. Não vou aqui escrever os responsáveis por sugestões e fornecimento de mp3, eles sabem.

01 novembro 2007

Presente

Ele vinha contente. Ao sábado já lhe conheço a alegria.
Chegou-se ao pé de mim a despeito do meu ar desconfiado. Trazia uma mão atrás das costas.
Disse: - Tenho uma surpresa para ti.
E eu fiz aquela cara espectante-feliz que tenho quando vou receber um presente.
Poisou-o em cima da mesa, assim:

Eu adorei.
O diospiro-cão ou diospiro-coelho.
Como se preferir, ficou ali a fazer-me companhia. Examinei-o bem, e o bicho era mesmo simétrico, um perfeito focinho de bicho. Umas horas de companhia depois, não resisti mais e... comi-o!