23 maio 2008

Erro II, ou na iminência dele.






















Urgência pediatria.
O médico, o mesmo médico do post anterior.
Estávamos entre explicações, perguntas minhas e algumas decisões.
Eu estava com os cotovelos em cima da mesa, a segurar a cabeça com os punhos por baixo do queixo, e ouvia-o do outro lado da mesa. Próximos. Como o meu pai e a minha madrinha me ensinaram, é importante não só estar atenta como mostrar que se está atenta e interessada. Assim, quem nos fala, sente-se ligado a nós e certamente terá mais vontade de nos contar novas coisas, dar mais do que sabe. E com isso só teremos a ganhar.

Decidíamos coisas difíceis.
Devo ter encolhido os ombros. Devo ter dito com dúvida: - E mandamo-lo embora mesmo assim, sem saber se terá de voltar, não é…?
Ele respondeu rápido: - Ouve, a tua insegurança é também a minha!! Eu é que falo com esta segurança toda e, pronto, tenho uma coisa que tu não tens (mas também é para isso que estás aqui) a experiência.

E aquele Ouve, a tua insegurança é também a minha, foi tão sincero que lhe vi o brilho no olhar. Era o brilho dos que querem fazer bem mas temem para sempre não conseguir.


fotografia de Andrew Eccles

15 maio 2008

o erro


Comecei a manhã a ver-lhe só o cabelo cinzento e a ouvir-lhe a voz.
Estávamos muitos numa reunião.
Ele firme. Decidido. Certo do que dizia. Era talvez o médico mais velho na sala. E citava artigos, desafiava velhas práticas, exigia rigor científico.
Alguns mais novos, muito mais novos, indignados suspiravam lamentações “mas eu há anos que faço isso convencida que estou certa e agora vêm dizer que não???!”
E ele continuava, sem ser agressivo, mas sempre sólido.

Continuei a manhã a aprender com ele. Ele explicava-me mas lançava-me às feras:… “Agora vais lá e fazes tudo sozinha”, sem a menor pena ou complacência. Continuava a recusar as explicações aceites, as formas de fazer não questionadas.
E eu aprendia. Ele viu bem a minha insegurança, a minha ignorância, mas acho que também viu que eu queria aprender, e dedicou-se a mim. Respondia sério às minhas mil perguntas e curiosidades, disse que eu escolhia muito bem as palavras para descrever as crianças.

E a certa altura falhou um diagnóstico. E desmoronou… tinha falhado!! E ficou zangado com ele, e reconheceu o erro. E ficou a matutar.

E eu fiquei aterrorizada. No auge da carreira, com imenso estudo ainda, com enorme exigência, com muita atenção… AINDA SE ERRA !?!

(o que me espera...)

08 maio 2008

IM Magazine - a revista esperada



NASCEU:
http://immagazine.sapo.pt

Tenho um enorme orgulho em pertencer a esta forma de tentar melhorar o mundo.
Espero que gostem. Espero que a sigam. Espero que tenham vontade de contar dela aos amigos, assim como uma novidade boa... mas ao vosso jeito, que pode ser em voz muito alta e alegre ou num segredo baixinho.
Em português e em inglês.

Deu-me um enorme gozo escrever "cidades lentas", já neste número.



IM Magazine é uma revista online inovadora que divulga O melhor que se faz no mundo... para um mundo melhor.

Com a IM poderá ir descobrindo, através de artigos, vídeos, blogs, agenda, o mundo dos visionários, dos pensadores, filantropos, voluntários, inventores, artistas, investidores. Os projectos que marcam a diferença, as ideias que vão revolucionar o amanhã, as empresas socialmente responsáveis, novas formas de olhar o mundo, novas soluções para velhos problemas, projectos e pessoas que estão a desenhar um mundo melhor no presente e para o futuro.

Bem-vindo ao "the bright side of the world". Inspire-se. Todas as semanas terá novos temas para ler, ver e sentir.

06 maio 2008

terra turfa













Tentei procurar as sementes na terra fofa oferecida juntamente com o pequenino vaso de barro. Sem a certeza de as ter encontrado coloquei um pequeno prato por baixo para que a água com que as reguei não escapasse pelo furo do vaso.
Assentei-os onde o sol bate com delicadeza.
Rego-as. Olho-as. Algumas palavras. Fico insegura nos meus gestos e escolhas. (Será que vocês estão mesmo aí? Será que este parapeito é bom para vocês? Será que vão crescer? Estarei a regar-vos demais?)
Olho-as. Sorrio-me e penso "vai correr bem".

No vaso está colado, pela L e pelo A:

Terra turfa com sementes.
Regue e coloque ao sol.
Faça crescer o amor perfeito.


Bem sei que se diz que amor perfeito não existe. Ainda assim penso… se não nos prendermos a esse “prudente cepticismo” e dermos a nossa água, muito sol… a nossa atenção, o nosso cuidado, a nossa liberdade… estaremos mais perto dele, do amor perfeito.
não será assim?


mais perto sabe melhor.

Ginecologia / Obstetrícia II






















Na especialidade de Ginecologia / Obstetrícia, nas mulheres que encontramos todos os dias, reflectem-se muito os problemas sociais e culturais.

Porque...

... quando as mães são demasiado novas.
... quando as mães são demasiado velhas e com demasiados filhos sem condições.
... quando intuímos a violência sobre elas.
... quando sabemos que estas mulheres foram infectadas pelos maridos.
... quando a pobreza é tanta que recusam os internamentos necessários, porque não podem faltar ao trabalho ou quando ninguém lhes olha pelos outros filhos.
... quando a grávida tem uma deficiência mental grave.
... quando o medo e a vergonha as fazem esconder um nódulo na mama, um sangramento vaginal.
... quando a miséria atrai a falta de sorte e... pior, a falta de capacidade de lidar com essa ausência de sorte.
... quando temos medo por deixar aquele bebé ir com aquela família.

... Quando isto acontece ALGUMA COISA VAI MAL, ALGUMA COISA VAI MUITO MAL!

Alguma coisa vai mal quando é mesmo duro voltar a casa e pensar que "Não, não, não! isto não podia existir!"

Ginecologia / Obstetrícia I






















Quem tanto disse ou diz que agora é muito fácil interromper a gravidez:
(e que por isso vão ser aos milhares as IVG de mulheres
"desprovidas de qualquer sentimento ou responsabilidade")

... DESENGANE-SE!!!

É um processo longo e difícil.
Feito com dignidade e em segurança, mas dificilmente alguém o quererá repetir.

suuuuuuuuuuuuuuuper COLANTE !!!!



Nunca gostei tanto de colar um autocolante como desta vez.
Colante é como se diz por aqui :)

05 maio 2008

my blueberry nights



O melhor deste filme: Wong Kar Wai
Chega a arrepiar os momentos em que sabemos que vivemos exactamente-exactamente aquela sensação... e depois a outra, sim a outra!
As palavras mágicas numa janela: for rent

David Fonseca





No concerto esqueci que estava na Queima das Fitas... e isso é muito bom!
No concerto lembrei-me que estudámos muito a ouvir David Fonseca, sofremos um bom bocado a estudar para o horrível exame de acesso à especialidade, mas agora... voltando a ouvir aquelas músicas, pensei como passou rápido e passou tão bem o ano passado! Muito cheio de muita coisa boa.
E por momentos quase me esqueci que estava no concerto.
E voltei a dançar-dançar-dançar!

Gosto muito das músicas, gosto do jeito dele, gosto de não saber nada da sua vida.

01 maio 2008

Uma segunda juventude


Não sei se gostei se não.
Mas nota-se muito bem o olhar de um extraordinário realizador e o seu enorme prazer de filmar.

realizador: Francis Ford Coppola

"O que sabemos, de certeza, é que é um belíssimo filme que se está a marimbar para o que se espera de Coppola e segue o seu caminho sem se importar com o resto. É assim que se devia sempre fazer cinema: em liberdade."
Jorge Mourinha

Juno



A prova de que de um tema absolutamente banal se pode fazer um filme absolutamente inteligente.
E o que se diz da banda sonora é mesmo verdade.

realizador: Jason Reitman



"Juno: I think I'm, like, in love with you.
Bleeker: You mean as friends?
Juno: No, I mean, like, for real. 'Cause you're, like, the coolest person I've ever met, and you don't even have to try, you know...
Bleeker: I try really hard, actually. "

[Rec]






















Realização: Jaume Balagueró e Paco Plaza

Depois de 5 filmes vistos no Fantasporto, em que nenhum era muito coincidente com o espírito do festival, fui ver o vencedor: [REC], já fora do festival. Com muito susto, muito medo e "chega, já chega... arranjem lá um final para isto e vamos embora!".
Depois gargalhadas e um ou outro olhar para trás, não fosse algum daqueles personagens nos perseguir.

O Amor nos Tempos de Cólera



realizador: Mike Newell

Foi o livro que li há tantos anos. Mas foi pouco pelo livro.
Foi pelo Javier Bardem e pela Fernanda Montenegro.
Foi porque assim escolhemos.
Digam o que disserem, eu gostei!
Transmite a mesma vontade dos livros de conhecer a américa latina.