21 abril 2008

Papel, qual papel?



Quando pergunto num serviço administrativo:
- Preciso então de trazer um papel?

[este conceito "um papel" é qualquer coisa que eu continuo sem perceber como ainda se multiplica-multiplica]

e do lado de lá do balcão uma cara mais ou menos atrapalhada me responde:
- É melhor trazer, para apresentar a...

E este "é melhor" demonstra a total ignorância da necessidade ou não do dito papel. Na dúvida, mais papel menos papel, que venha o papel.
Mas com este papel perde-se tempo, gasta-se gasolina, gasta-se paciência, gasta-se ecologia.
Com este papel enche-se um pouco mais o caixote do lixo ou os arquivos mal organizados.
Com este papel evita-se uma resposta com aquele tom bem má que eu sei que consigo ter "Melhor mesmo era informar-se se é PRECISO MESMO, não acha?"

Às vezes fico indecisa sobre qual a melhor solução:

1) inundar este tipo de serviços com má disposição, porque quando as coisas correm mal deve-se exigir melhorias;

2) puxar mais pela paciência, tentar entender que muitas vezes as coisas são mesmo complicadas e sobretudo não são da responsabilidade da pessoa atrás do balcão... e ir embora, aproveitar da melhor maneira o passeio, ver as paisagens, encontrar mais pessoas.


"Hay que endurecerse, pero sin perder la ternura jamás."
Che

sim, eu sei...

20 abril 2008

As mães são as mais altas coisas que os filhos criam






















O nascimento numa ambulância do INEM, Portugal, foto de Augusto Brázio.
Prémio de Fotojornalismo da Visão


para a joana
título de Herberto Helder

As mães são as mais altas coisas que os filhos criam






















Uma mãe, vítima das minas, dorme com a filha, em Moçambique.
Prémio Ortega y Gasset de jornalismo, categoria Fotografia, de Gervásio Sanchez

para a joana
título de Herberto Helder

17 abril 2008

40 anos GEFAC













"As diversas manifestações da cultura popular constituem, por excelência, o momento em que um povo fala lealmente de si,o momento onde um povo se revela na sua maneira de ser própria.

Enraizado nesta consciência, o Grupo de Etnografia e Folclore da Academia de Coimbra (GEFAC) é fundado como Organismo Autónomo da Associação Académica de Coimbra em 1966, tendo desenvolvido desde aí um exaustivo trabalho de recolha, tratamento e divulgação das manifestações tradicionais.

O GEFAC utiliza as manifestações populares numa perspectiva criativa, principalmente nos ajustamentos aos aspectos cénicos, que permitem produzir um espectáculo globalizante, não tanto empenhado em demarcar regiões, mas sim em o sentir que provocou o aparecimento das manifestações."

in www.uc.pt/gefac


Este post aparece já com atraso. Mas gostei muito deste espectáculo "GEFAC e amigos", no TAGV no dia 12 de Abril. A apresentação das músicas e dos amigos (os convidados) foi feita de uma forma muito próxima, como se alguém nos explicasse ao ouvido e com cuidado as pessoas que entravam.
E as músicas muito bonitas. ou muito alegres. ou muito divertidas, sendo muito difícil resistir a levantar da cadeira e dançar.

E eu queria tocar concertina. e gaita de foles. e as percussões todas. e as guitarras. e o saxofone. e o cavaquinho. e saber cantar. e poder fazer parte dos pauliteiros.

14 abril 2008

4:48 Psicose



Eu só fui por causa do cenógrafo, confesso.
Mas nada me desiludiu e tudo surpreendeu.
Bem-haja a Maria do Céu Ribeiro que faz um papel incrível.
Luzes, texto (não aconselhável a quem ande triste, acho eu), e SIM O CENÁRIO... claro que sim. (nota: não é como nesta imagem, uma ideia apenas)


4:48 Psicose de Sarah Kane
Encenação: Luís Mestre
Tradução: Pedro Marques
Cenografia: Pedro Novo
Design de Luz: Luís Mestre e Manuel Pereira
Elenco: Daniel Pinto e Maria do Céu Ribeiro

Em cena 10 de Abril - 24 de Abril
1 de Maio-18 de Maio

Terça a Domingo às 21h45

Rua do Heroísmo nº 86 (metro do Heroísmo)
Informações e reservas-22 5373265)
asboasraparigas@gmail.com
estudio0.blogspot.com

09 abril 2008

habla con ella
















Ela uma rapariga demasiado nova, demasiado bela para estar ali.
Ela demasiado quieta. Demasiado calada. Demasiado doente, fomos descobrindo. 18 anos deitados numa maca. Umas pestanas enormes. Um cabelo muito negro.

Ele muito novo também. Ele enfermeiro. A ele observei horas à volta dela. E para ele todo o cuidado era pouco. Nenhum pormenor era demais. Nenhum gesto era demasiado. Deu-lhe a mão. Falou-lhe com respeito e com cuidado. Ele quis a vida dela todo aquele tempo. E estou mesmo convencida que foi ele, só ele, que a conseguiu hoje!
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04 abril 2008

INTIMIDADE






















Tipicamente, por estas bandas, quando estou à espera num balcão ou numa fila e chega alguém, essa pessoa encosta-se a mim. É assim natural. Descansa um bocado do seu peso em mim. Sinto o meu corpo desiquilibrar um pouco. Não gosto desse encosto de desconhecidos, sinto que é quase uma imposição de presença. (INTIMIDADA?). Devagarinho dou um passo para o lado, devagar-bem-devagar para que a pessoa não tombe. Então, tipicamente também, a pessoa como que alivia, como que se alarga inspirando e pronto... está encostada a mim outra vez!

Já me explicaram que aquilo que consideramos a "distância de INTIMIDADE" varia de pessoa para pessoa e, ainda mais, de cultura para cultura. Aqui no Norte, nitidamente a distância encurta-se. Quando penso para mim "vá, que mal tem" até consigo encontrar graça, dou por mim a sorrir. E aí tento perceber se aquele encosto é quente, se é trémulo, se é conforto.


fotografia de Andrea Huber

03 abril 2008

Ver











pois
ver não é habitar
o espanto de as coisas serem?

ver
não é a assombrosa revelação
da nossa cumplicidade
com o lume?

José Tolentino Mendonça
in dos olhos de Rubliev


Sei lá eu porquê, hoje ao acordar. aconteceu uma vontade única e singular em dia de acordar cedo: pegar num livro. Era do José Tolentino Mendonça: A noite abre meus olhos, e li um poema (no seguimento dos últimos dias). E encontrei este. E é mesmo verdade, e é mesmo bonito.

na sala de espera

"ACREDITEI SEMPRE QUE O AMANHÃ IA SER PORREIRO
E APOSTEI TUDO NO HOJE"



Jorge Palma

eu detesto as salas de espera, normalmente há sempre uma televisão histérica ou uma conversa de lamentos pesada.
mas hoje, na minha espera, encontrei uma entrevista do jorge palma e aqui está uma frase que gosto.