09 agosto 2009

Casa

Como se faz uma casa?
Ao nosso jeito. Meu e teu.
Não esquecendo as tropelias do Botas.
Nem os vasos de flores que eu vou experimentando, sol ou sombra.
As minhas faltas de jeito, as minhas fúrias.
As tuas migalhas, os teus sapatos 47.
A água amarela, as torneiras que pingam.
O sofá azul que o João emprestou.
A mesa, a estante que nós montámos.
As mesas que, medidas feitas, construímos e que depois pintámos.
As pessoas que recebemos.
A porta que fechamos nos dias em que esquecemos que o mundo existe.
As persianas que fechamos quando viajamos.
Os nossos livros, a nossa música.
O sol, muito sol pela varanda.
A roupa que se estende.
O som do ladrilho debaixo das corridas do Rafael.
As tuas guitarras.
O berimbau de boca que me enviaste para S. Tomé.

Assim é muito bom... mas,
Pela tua mão não me importava de não ter casa nenhuma!

domingos


Escolhi para perfil deste blog:
“existem os domingos de manhã (...) em que sente uma dor fina por dentro, como o frio, em que não consegue sorrir; e existem os domingos de manhã em que acredita numa certeza solar que a enche." outros domingos e "agarra na caixa dos brinquedos, levanta-a no ar e ENTORNA-A no chão da sala" ( !!! ) de: José Luís Peixoto

Escolhi porque tem a ver comigo, esta definição de 2 personagens diferentes do “Cemitério de Pianos”.
Também sou assim no trabalho.
Estranhamente, escolhi uma especialidade em que não sou só eu que me sinto assim, atrevo-me a dizer que somos muitos. Medicina Interna:
- Existem aqueles dias em que há uma convicção enorme de que é a melhor especialidade que existe!
(porque tudo se integra, tudo é conhecimento, tudo é descoberta)
- Existem os outros dias em que juramos repetir o Exame e mandar tudo para o espaço!
(porque dormirmos no hospital, porque ninguém reconhece, porque tudo é demasiado).

Ontem foi dia Urgência e de esgalhar a trabalhar, sair moída, mas com a sensação de “missão cumprida”!

Hoje é domingo e apetece, como diz o ZF, “fazer pouquinho-pouquinho”.
Só é pena que não pode ser. “Trabalha que para ti é”, já ouvi hoje.