19 fevereiro 2012
TIBÃES
Paredes grossas. Longos corredores (e lembrei-me do meu pai contar que em corredores semelhantes correu muito e foi feliz).
Madeiras e móveis bonitos. Escadas grandes e pequenas. Esconderijos. Surpresas.
Quartos simples, entre o branco e o transparente. Uma janela para um jardim interior onde a luz e a sombra se juntavam numa linha perfeita.
Perdemo-nos. Calmos. Curiosos. Espreitámos por vidros. Olhámos para cima.
O cor-de-rosa ali muito confortável. Amores perfeitos semeados.
Comida com molho e cogumelos selvagens.
Sumo de laranja natural. As laranjas lá fora, mais que muitas.
Jardins a perder de vista, correntes de água, lago, escadas e flores.
Disse-te: Seria feliz a viver num mosteiro. Comida, roupa lavada, arrumação. Desprendida das coisas, sem dinheiro. Contribuindo para a comunidade... jardinagem, poda, horta. Escrevia e lia. Paz.
Seria feliz a viver aqui desde que vivesses aqui comigo.
02 fevereiro 2012
Saltos
Tive a sorte de me cruzar com um internista que sabe muito.
Esse internista também sabe ser intratável, é um facto.
Mas ele simpatizou connosco, sentava-se muitas vezes à nossa beira só para conversar. Bom humor, boas comidas, bons vinhos. Até deixou de pegar connosco.
Ensinou-me duas coisas que não queria esquecer:
1) "Mais vale estar doente do que ter um mau médico."
Parece lógico, mas responsabiliza-nos e disse perfeitamente o maior medo que eu tenho... fazer-lhes mal!
2) Escreveu no início da profissão, no seu curriculum, uma coisa com a qual, no fim de carreira, continua a concordar: "Ser internista é a medida do meu desafio intelectual. Agora não estou certo de gostar de ser internista, nem tão pouco de gostar de ser médico".
Fiquei estática. Como é que alguém tão competente, que sempre se aplicou tanto para saber tratar os doentes, que escolheu a área dos doentes mais graves, pode ainda ter dúvidas sobre se gosta daquilo... Ganhou uma dimensão muito mais humana, e fiquei com menos medo das minhas dúvidas.
Uns dias depois andei aos saltos por estas pedras na praia dos Lavadores, feliz a renovar votos em voz alta e a sentir por dois dias que ser médica não tinha importância nenhuma!
Esse internista também sabe ser intratável, é um facto.
Mas ele simpatizou connosco, sentava-se muitas vezes à nossa beira só para conversar. Bom humor, boas comidas, bons vinhos. Até deixou de pegar connosco.
Ensinou-me duas coisas que não queria esquecer:
1) "Mais vale estar doente do que ter um mau médico."
Parece lógico, mas responsabiliza-nos e disse perfeitamente o maior medo que eu tenho... fazer-lhes mal!
2) Escreveu no início da profissão, no seu curriculum, uma coisa com a qual, no fim de carreira, continua a concordar: "Ser internista é a medida do meu desafio intelectual. Agora não estou certo de gostar de ser internista, nem tão pouco de gostar de ser médico".
Fiquei estática. Como é que alguém tão competente, que sempre se aplicou tanto para saber tratar os doentes, que escolheu a área dos doentes mais graves, pode ainda ter dúvidas sobre se gosta daquilo... Ganhou uma dimensão muito mais humana, e fiquei com menos medo das minhas dúvidas.
Uns dias depois andei aos saltos por estas pedras na praia dos Lavadores, feliz a renovar votos em voz alta e a sentir por dois dias que ser médica não tinha importância nenhuma!
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