30 outubro 2010
Melindre
Tenho sempre o mesmo sentimento quando alguém diz muito convictamente uma decisão, uma perspectiva.
- Fico melindrada.
I ACTO
Ela está dois anos atrás de mim na formação médica. Vejo-a poucas vezes, mas já tinha percebido como é segura, como sabe medicina e como fala convictamente (não muito habitual aquela forma de estar).
O enfermeiro perguntou se a amostra que íamos colher tinha de ficar em formol. Eu ia responder "Eu diria que sim, mas como não tenho a certeza vou perguntar e já lhe digo."
Mas ela falou prontamente, secamente "Não! Claro que não, é uma biópsia!"
E eu fiquei com aquela sensação... "Fogo... não sei nada desta porcaria, esta rapariga é que sabe..."
Mas bastaram 2 minutos para quem sabia chegar e perguntar se o Formol estava já pronto. Eu e o enfermeiro encolhemos os ombros e sorrimos.
II ACTO
Eu tinha largado o carrinho das compras, vazio num corredor, e ao voltar peguei nele e comecei a andar. Chegou por trás uma rapariga que mo tirou das mãos e disse "Este carrinho. É MEU." E levou-mo. Eu pedi muita desculpa que não tinha sido por mal, que me tinha enganado (E fui submissamente atrás dela para tirar a única coisa que entretanto colocara no carrinho). Zangada ela seguiu. E procurei então o meu. Encontrei um carrinho vazio mais ao lado onde não tinha ideia de ter passado antes. Olhei para a moeda na ranhura e sorri para mim: em vez dos meus 0,50€, este tinha 1€. Sorri e não corri atrás da rapariga, ela havia de reparar e talvez perceber a sua convicta brusquidão!
Ainda assim eu sei que da próxima vez vou sentir o mesmo melindre.
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1 comentário:
nas duas situações... eu também sentiria esse melindre seguido desse sorriso final!
songa
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