01 maio 2007

Religião

Um post sobre religião… também parei para pensar se me atreveria.
Será.
Tentará explicar.











Ensonada. Sempre me custou acordar cedo. Sem demasiado esforço, uma forma de entender aqueles dias lá.
Ensonada seguia o caminho de pedras até à igreja e lá esperava-me ele, sorria. Sentava-me naquele colo e ele explicava-me as coisas ao ouvido, sempre meigo. Da missa e sem ser da missa. Entrecortado com alguns olhares de “já te avisei” do pai, por estar eu a distrair o avô, talvez.

Ele nunca leu nada sobre religião. Ele e ela (a avó) não estudavam, não procuravam saber muito.
E nunca conheci outras pessoas tão coerentes
.











Eu seguia-o a muitos passos (muito mais que os dele, que eram grandes) pelo mesmo caminho de pedras. Sabia-nos com pressa. Íamos tocar o sino os dois e eu gostava tanto! Escada estreita e comprida, encaracolada. Subindo depressa ficava tonta. Lá em cima ele prendia os ferros aos sinos. Eu fechava os ouvidos com as mãos e ria-me! Se lá estava também a minha irmã gritávamos, gritávamos muito porque ninguém nos podia ouvir. E riamo-nos!

Ele nunca procurou muitas explicações mas saiu da aldeia o suficiente para saber das coisas feias, porcas e injustas. Um dia aliviado, depois do ataque do lobo, de certeza que ficou feliz por continuar vivo, de certeza que rezou e agradeceu. Sincero. Sozinho.











Sei-me muito injusta…
Nem sei porque me sinto tão mal às vezes. Mas cansa-me a conversa do Deus que existe para nos fazer felizes, aquela espécie de Deus que vive de nos dar consolações. Sempre a história da relação pessoal, do conversar, do explicar.
Nunca soube rezar e até já tentei a sério!
Cansa-me essa imagem sempre sossegada. Sempre ali. Compreensiva sempre. Atenta sempre.
Fico sempre-sempre a pensar, com tanto lugar importante para estar no mundo e para se preocupar havia de estar aqui porquê???
Aqui está tudo bem.
E chateiam-me as músicas. As mesmas músicas. Constantemente. Para todas as horas. Quando se está só a cantar há milhões de músicas outras. E os ciclos obrigatórios. Acordar. Refeição. Refeição. Deitar. Gastam-se as palavras, perco o sentido todo.
Desculpem mas não consigo entender a religião tranquilizadora dos ricos… se lessem, se ouvissem algum “tilt” se devia fazer.
E o “tilt” falha em mim também, quando tranquilizo.
Acredita e serás feliz. É mentira!!!! E não está escrito em lado nenhum que isso acontece a tempo de o sabermos.
Eu sou optimista, mas também já saí da minha aldeia.











Outra pessoa. Oferecia-nos cigarros (e ria-se porque sabia que recusávamos também por pirraça), trazia jeropiga ou uma galinha viva (que ninguém teve coragem de matar). Podia adormecer às vezes. Gostava de mergulhar bem cedo quando nós ainda nos arrepiávamos de preguiça.
Mas na hora de discutir, na hora de crescer ele é implacável. Sempre connosco, mostra-nos no seu mais que simples exemplo que não andamos aqui para sermos felizes e ignorantes. Tudo o que ali líamos nos comprometia e nos exigia. E os textos podiam ser de muitos outros lados. Treta ler por ler. Treta sentir por sentir. É preciso mudar as coisas e no entanto repetiu-nos milhares de vezes “eu não mudo nada nem ninguém” e sabíamos que só nos mudamos a nós e quem quiser vê. Quem quiser questiona também.
Uma vez gritou-me “quero ver se quando fores médica vais cobrar 1000 contos por uma operação aos olhos… aos olhos!!!”.
Gritou-me. Ecoa.

Ele estudou muito. Procurou muito. Procura sempre. Acompanha. Quer-nos melhores. Consequentes.
Sem amarguras, mas com inteligência.

E no entanto sei-me muito injustiça.
E no entanto sei bem que sou eu que não percebo nada.

3 comentários:

Ze&Jose disse...

um beijo para a minha filha

my name disse...

casa nova? :)
vou-te visitar. já te informaste de internatos na suíça?

Zé Filipe disse...

De certeza que não posso linkar-te?