29 agosto 2007

Balanço curso

(é apenas um possível. com mais uns anos outros balanços farei)



A única altura em que me lembro de ter querido ser médica foi bem pequena, e o que eu queria era ser médica sem fronteiras.
Não mais o quis.



No secundário eu fui sempre aluna do meio para trás na sala. Porque assim dizia o meu número, e era muito ajustado. Estava atenta quando queria, distraída quando queria.
Não tenho ideia de ter sido alguma vez boa aluna. De me sentir boa aluna. Sempre soube que me podia esforçar mais. Sempre houve quem fosse melhor. E, admito, tinha um certo orgulho de fazer outras coisas além da escola… e não eram “actividades”, eram coisas onde tinha responsabilidade e não podia falhar, coisas que me envolviam mais.



Cheguei a enfermagem. Não gostei da escola. Ano de muitas outras mudanças levou por arrasto a vontade de mudar dali também, não sabia para onde. Voltei ao livro dos cursos todos do país. Sociologia? Antropologia? Mas isso para a vida? Perdida… eu gostava de saúde, porque não medicina? Sem muita certeza na escolha, entrei.



Passei o curso todo a pensar que talvez devesse mudar de novo. Sempre levando junto a mim a ideia “provavelmente não vai ser nada disto que eu vou fazer na vida” mas sem saber o que fazer em vez... Sofri algumas vezes com a certeza da minha ignorância, com a sensação de desajuste. Todos pareceram sempre saber tão bem o que queriam, sempre. Continuei a sentir mais entusiasmo pelas coisas que não eram do curso e aí procurava superar-me. E cá dentro isso servia (pouco) de desculpa para não ser boa aluna… insatisfação.



Hoje. Decidi que é médica que quero ser. Sei que não quero ser nada menos do que muito boa médica (de outra maneira não vale mesmo a a pena!). Sei que tenho algumas qualidades que me vão ajudar a pertencer e fazer boas equipas, sei que sou exigente o suficiente para mudar as coisas para melhor, não tenho medo de trabalhar. Sei que sou mais exigente comigo e que isso me vai obrigar a ser sempre mais competente, ainda que morra mil vezes antes. Alguma diferença gostava de marcar.
Sei que tenho tudo para aprender ainda. Sei que a única coisa que tenho é preocupação sincera, sei que gosto de fazer as histórias clínicas sozinha e de as apresentar de forma impecável (o que não é nada fácil porque se o médico que nos ouve for bom vai encontrar sempre muitos erros). Sei que vivo intensamente resultados, melhoras e pioras dos "meus" doentes. Sei que paro muitas vezes a pensar que aquela pessoa estaria melhor em casa…
Sei que sou crítica, muito crítica (o que é muito mau)… mas também sou optimista. Não gosto da forma como, por vezes, me chamam utópica mas gosto de o ser.
Sei que falo verdade quando digo que não é uma profissão mais importante que as outras, que não é mais difícil, que não deve ser mais bem paga. Sei que o princípio da medicina é trabalhar muito para quem precisa e não estatutos, admirações e auto-vanglorizações.
Sei que não vou sobreviver sem fazer as outras coisas de que gosto e que não fazem parte da panóplia de opções “descansar”. Terei de encontrar como.
Sei que tenho tudo para aprender. Mas também sei que a escolha foi MINHA… cerro os dentes e aí vamos.

3 comentários:

Anónimo disse...

Bom e verdadeiro balanço em tudo menos nessa questão da "boa aluna". Claro que foste uma óptima aluna. Só não foste a melhor mas isso só um pode ser em cada turma , em cada ano, UM só no País inteiro e mesmo esse é desbancado pelo melhor do mundo.

Anónimo disse...

Tenho muito orgulho em ti e para mim... o que fazes está sempre muito bem feito!!!!!

songa

Anónimo disse...

Inês,
vais ser com toda a certeza uma boa médica...nao acredito q nao o sejas!!!Eu acredito em ti miuda...
Mts beijinhos de felicidades para este longo caminho q ainda vais percorrer!!!!
Beijinhos
Joana Isidoro