17 dezembro 2007

Natal

Uma mulher pequena, bem vestida, bem penteada. Uma mulher que veste caro. Mas pequena, com ar frágil. Encostada ao balcão. Mesmo de costas para mim notei-lhe o ar estafado. Quase desespero. Espreitei-lhe por cima do ombro. Escrevia. Em minúsculas letras. Não fosse lá ter encontrado o meu nome (um igual ao meu) e não olharia de novo. Mas resolvi contar. Eram mais de 60 nomes. Uma lista de 60 pessoas a quem dar prendas e ela anotava o que comprara para cada uma.

Entendi-lhe o cansaço.



Orgulhei-me da minha única prenda, também em cima do balcão. A única prenda que tenho de dar este ano.
Orgulhei-me das minhas 2 famílias terem escolhido, há muitos anos, a distribuição de prendas por amigo secreto. Cada um só tem de escolher uma prenda. E o objectivo? É escolher com calma e com cuidado. Apenas para aquela pessoa. E depois, junta-se tudo num enorme cesto com as respectivas etiquetas. E cada prenda é retirada na sua vez. Cantamos uma música só para essa pessoa enquanto ela abre o seu presente. E depois olha-se com atenção para cada prenda, fazem-se comentários, ri-se, comove-se, experimenta-se. As prendas são simples e baratas. E como é sempre muita gente, o Natal prolonga-se pela noite (no outro lado pela tarde), sem pressa.
Orgulhei-me de uma das minhas famílias ter decidido que, este ano, não há mesmo prendas, a excepção serão as crianças.
E assim, olho para a única prenda que tive de escolher. Para uma pessoa muito fácil de contentar. Mas procurei muito, pensei muito, queria que fosse mesmo para ela. Ela nesta altura, com o que conversámos este ano, com o que lhe descobri e com o que lhe quero dizer.
Olho para a única prenda e penso, já te comprei mas estás ainda toda por fazer.

(o difícil é disfarçar que fui eu que ofereci. Bem me esforço mas por vezes lá sou apanhada por um sorriso num olhar mais cúmplice que parece dizer "foste tu de certeza")

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