16 março 2008

sabe como eram as kodak?


Entrei na loja com a mochila às costas.
Pedi ao Sr., que já reconheço dali, que me revelasse umas fotografias com o mesmo tamanho de outras de há muito tempo atrás. Claro que ele não se lembrou e como eu não tinha as medidas, chamou-me para dentro do balcão (como sempre!), lá estivemos a improvisar. Olhava para todos os gesto dele, mudava de ecrã para ecrã, de um computador para outro, abria e fechava programas, as máquinas de revelação iam fazendo barulhos como resposta, tudo tranquilo, sempre no mesmo lugar, com o mesmo teclado, com o mesmo rato.
Eu estava mortinha por meter conversa. Mas dizia para mim mesma, “vá lá… o Sr. tem mais que fazer do que te aturar e tu tens de ir embora.”
Mas não resisti, sorri para aquela cabeleira branca e “O Sr., com os anos de profissão que tem, já teve de se adaptar a todas a tecnologias e mais algumas”
Xi… Contou-me que estava a fazer 54 anos de carreira, explicou-me como montou o seu primeiro ampliador, aos 8 anos, copiando por um livro; como revelou as primeiras fotografias com um acordo de cavalheiros com o farmacêutico. Mostrou-me o documento de quando se empregou como fotógrafo aos 10 anos. Ensinou-me as técnicas com vidro. Descreveu-me a forma como ainda tira dezenas de fotografias, ao mesmo tempo que as desfilava. Falou das muitas viagens a feiras e formações internacionais. E eu ouvia tudo e perguntava tudo o que me vinha à cabeça. E ele explicava. Saíram e entraram clientes, a quem dirigiu umas palavras rápidas, quase contrariado.
No final voltou a olhar para mim por cima dos óculos e fez uma expressão subitamente embaraçada e disse “ó menina, desculpe tomar-lhe assim o tempo!!” E eu ri-me e disse “Eu? Eu estive a aprender, o Sr. é que não trabalhou nada por minha causa!”. Peguei na mochila, perguntei “Como se chama o Sr.?” ele respondeu e espero não esquecer mais.
Despedi-me, saí. E ele lá de dentro “E não se esqueça da regra dos 3/3!” e eu, sem falar, mas orgulhosa fiz com os dedos o formato da regra. Ele soltou uma grande gargalhada lá dentro.

Fiquei consolada. Quem me visse passar pela baixa não sabia porque se ria a rapariga.

2 comentários:

Nuno disse...

...Inveja...

=)

Anónimo disse...

A rapariga fez tudo isso? Eu acredito. Foi muito bem feito! É agir dessa forma que nos torna felizes!!!!! Gostei, sinceramente.