23 julho 2008

sexta-feira, foi lua cheia

MANHÃ:

Depois da primera cirurgia sentei-me na pequena sala de convívio/chá/café/bolachas/sofás.
Suspirava quieta por a minha equipa ser dada a falar em murmúrio por entre as máscaras e de pouco lhes conseguir perceber.
Olhei para a TV, estava a dar uma reportagem sobre a Operação Noite Branca.
Chegou o Interno que, apesar de ter minha idade, está um ano à frente, já na especialidade. Perguntou-me o que eu estava a fazer. Disse-lhe. Respondeu:

- AH! Esses gajos que morreram é tudo gente que tem é que morrer, não fazem falta nenhuma. Tudo bandidos. Têm é de morrer mesmo.


Emudeci.
Raiva por dentro.
Cara séria para fora.
Se lhe tivesse respondido tinha saído a rasgar e ainda não há confiança para isso. (fico sempre chateada de não responder à letra a estas pessoas)



NOITE:

Fui ver o "Tropa de Elite", um filme Brasileiro de 2007, realizado por José Padilha, vencedor do Urso de Ouro de Melhor Filme do Festival de Berlim 2008.
Saí da vazia sala de cinema inquieta. Passei o filme todo a pensar "Mas onde é que o realizador quer chegar? Onde?" É para nos dizer que todos os que consomem qualquer tipo de droga são responsáveis por aquilo? É para criticar as bonitas ONG's, que as classes média e alta criam, repletas de incoerência? É para nos mostrar o trabalho real da BOPE? É para nos mostrar as favelas? [aqui páro e lembro tantas outras associações que se esforçam tanto por provar que as favelas são muito-muito mais do que a violência que se publicita] É para mostrar a corrupção da polícia? É para justificar a violência deste tipo de polícia que entra para matar? É para nos dizer que todos se podem corromper?

Sim, eu sei que provavelmente José Padilha só quis fazer um BOM filme de acção e o resto são questões do público, que lançar a discussão tem valor por si.

Mas raios... assusta-me que racismo, extrema direita ou pura ignorância estúpida como a do meu colega Interno encontrem algum argumento mais neste filme.

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