18 agosto 2008

Adega - apanhado III



Entra-se numa adega de porta pequena, numa fachada que nunca faria adivinhar o enorme espaço que ali está.
Nesta adega há enormes talhas. Bonita. Há homens ao balcão, adivinho-lhes o fígado na cor rançosa da sua pele. Há uma cadela que se chama Pitoresca. Dou-lhe festas e cascas de queijo (que os clientes levam para acompanhar o vinho).
Todos pagam uma rodada.
Por trás do balcão vejo um homem. A vida inteira ali. Mas há nele um olhar mais profundo do que nos outros. Nota-se ainda que permaneça calado. Diz ser fraco bebedor. Em pouco tempo de conversa descobrimos-lhe o sorriso, a preocupação e as lágrimas pesadas, retidas. Volta o sorriso, o carinho pela cadela, o jeito com que aperta com as duas mãos a minha mão direita e diz "Desejo-lhe toda a sorte."
Gostava de não o esquecer.
Será que conhece a sua própria profundidade?

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