06 janeiro 2011

Dia frio

Um pouco triste.
Dia acelerado. Os hospitais deviam ser locais de vida, deviam conseguir misturar bem a alegria e a esperança, o respeito e o sofrimento.
Mas querem (e estão a conseguir) tornar os hospitais em lugares de correria, de nervosismo, de impaciência e desrespeito.
Eu sei-o. Estou na linha da frente. E somos alguns na linha da frente. E somos jovens e trabalhamos muito. Somos essa linha que os doentes vêem, que as famílias encontram, que os colegas questionam.
E raios, trabalhamos que nos fartamos!
As administrações, as regras destas economias irresponsáveis apertam-nos o cerco, sugam-nos o tutano. E nós cansados, irritados, a sentir que nos pedem demais, que são doentes demais, que são condições (conquistadas!) importantes que nos estão tirar!
E na face dos doentes é que regresso sempre ao início... O que esperam de mim é segurança, é calma.

Estou triste hoje.
Quero o sistema nacional de saúde público de qualidade.
Não quero correria, não quero irritação.



Lembrei-me da manhã da véspera de natal. Talvez 5H00.
Telefonaram-me. Nessa manhã eu pensava em nascimento. Mas chamavam-me para verificar um óbito. Um senhor velhinho numa enfermaria que não é a minha. Percorri o hospital sozinha. Frios e quentes, os corredores, numa sucessão. Longe. Os meus passos não faziam barulho. Tentava caminhar tranquila, sem me sentir assim.
Tive de verificar e escrever que a sua vida terminava ali, todo ele silêncio.
E por um segundo tive a vontade de escrever algo mais bonito (do que as palavras que se usam sempre), mais sentido, mais poético. Mas não pode ser... Não sei bem porquê mas exigem-nos apenas seriedade e concisão (Brevidade e clareza).

Preciso abrir as janelas hoje.

5 comentários:

Paulo Martins disse...

Casa comigo

Anónimo disse...

Continua minha filha!

Maria disse...

Que lindo texto inês, que bonita que és.

Anónimo disse...

:)

hug disse...

gostei muito querida inês!