12 julho 2007

Tutankhamon




Foi o nome que lhe demos, foi o nome que para mim ficou, não mais pelo significado inicial, apenas porque a palavra soa bem ao dizer e combina com aquele homem velho, magro, sereno, de sorriso simples.
Tutankhamon foi como todos, mesmo todos, o conheceram pelas minhas histórias, pelas minhas preocupações, pelo carinho que não fiz por disfarçar.
Tutankhamon, sendo um homem que nunca tinha conhecido, fez-me ver:

- que posso tornar numa acérrima defensora dos meus doentes;
- que me enfureço pela desatenção que lhes possam ter;
- que posso acordar com vontade honesta de ir trabalhar e saber como passaram a noite;
- que é bom demorar mais tempo a fazer o diário clínico porque assim faço companhia;
- que as minhas perguntas podem parecer muito ridículas a um Sr. que diz ter mais de 100 anos e que, de facto, o são para quem aceita ser velho.

Este homem fez-me confirmar que é um disparate a tendência que existe para infantilizar os doentes, que é bom ter uma relação que é simples (como aquele sorriso), que é optimista, que respeita o tempo de vida e os saberes de cada um. Apenas.
Estive na vida do Tutankhamon durante 6 semanas. Um dia depois de ter mudado de enfermaria ele faleceu. Eu soube (penso que não por acaso) pelo jornal, numa secção que nunca tinha lido.
E não, não encontro sentido.

3 comentários:

Sérgio Lopes disse...

Que bom que tiveste 6 semanas na vida dele e ele na tua. Fizeste-o feliz e ele fez-te crescer. Quem acredita que os "velho" para nada servem que ponha os olhos neste post.Só não quer aprender quem tem medo de viver!
bjo

Anónimo disse...

Que maravilha de filha!

Leonor disse...

É um texto muito bonito e deixa que pensar.