20 outubro 2007

depois da festa



Porque é que gostas de cinema europeu?
O tom da pergunta costuma ser… como é que isso é possível?

E eu não gosto da pergunta e não respondo nada de jeito. Qualquer coisa evasiva.
A verdade é que não gosto das conversas sobre cinema (é comum acabar num desfile de vaidades). Sei perfeitamente que não gosto de ouvir os outros terem-nas e por isso também fujo a explicações.
A verdade é que estou muito longe de entender o que quer que seja de cinema para tentar ensaiar críticas. Gosto ou não gosto. Sinto-me bem, fico bem. Sinto-me mal, fico mal… encontro ou não sentido nisso.
A verdade é que qualquer entendedor de cinema verá claramente que entre alguns bons filmes que vi, são sempre muitíssimo-íssimo-íssimo mais os que eu não vi!

O que eu gosto mesmo é da sala escura, é de estar lá e sentir aquilo tudo... outras histórias, tão semelhantes ou tão radicalmente diferentes da minha. Reparar nos pormenores. Encontro sempre locais que quero ver, onde gostava de viver, uma estante, uma mesa, uma janela, uma rua, alguém a quem fazer perguntas, ralhar ou pedir colo.

E do cinema europeu (seja lá o que isso seja) eu aprendi a gostar. E isso nem sempre é fácil… dou por mim a pensar às vezes, vá lá… não esperavas isto, mas aproveita para descobrir como é que alguém pode imaginar um filme assim, como é que alguém tem uma estrutura mental tão diferente daquilo que estás habituada… vê lá se este realizador não foi corajoso em ir contra tudo o que é suposto?! E assim os filmes acabam quando não se espera, são filmados dos ângulos que não conhecemos, têm diálogos discretos (aí sim, para mim, é a diferença fundamental… não é tanto o enredo, a acção, o objectivo final das personagens que interessa, é o que elas vão pensado, construindo, conversando, (se) encontrando… aí o cuidado é, quase sempre, bem maior. Um texto. Algo a dizer com ele: nem sempre imediato. Sentido e posição das palavras.) ou diálogos indiscretos, terrivelmente curtos (às vezes parecem uma chapada que revolve tudo, transforma), deliciosamente longos. Também calham ser sem nexo absolutamente nenhum e perde-se a paciência. O ritmo é outro, mas depois de entrar sabe bem ficar. A cara dos actores parece dizer muitas coisas… (alguém entra nos olhos de Laura Morante sem se perder? E perdemo-nos porque a câmara não tem medo de parar neles.). As casas são casas, não parecem cenários. Desarrumadas. As cores são estranhas, mas encontramos-lhes a fotografia mais fabulosa. Aquela-aquela que queríamos saber tirar.

E têm uma coisa muito boa. É que para encontrar as críticas escritas é preciso procurar e elas não são faladas (pelos cafés, filas de espera, almoços e jantares) então, somos obrigados a descobrir sozinhos se gostámos ou não.

Fotografia de Ensemble, c'est tout.

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