18 outubro 2007

shiatsu















Ela sabe muito bem o que é que eu estudo.
Conhece-me de 3 ou 4 sessões. Espaçadas nos anos.
Mais uma vez a minha queixa era muito concreta. Uma dor horrível entre a coluna e a omoplata direita. Há umas semanas. Não está lá sempre, mas quando aparece dói-me muito, quase não posso respirar, irradia abraçando-me ou atravessando o pulmão até à frente.
Deitei-me. Gosto dela. Faz-me bem e não faço perguntas. Ela também pouco fala, deve intuir que de outra forma eu não voltaria lá, deixa-me ficar no silêncio enquanto me faz shiatsu.

(E eu tenho muito talento para ficar ali quieta só a aproveitar, não adormeço porque não é suave, embora seja bom. Às vezes fico embaraçada com as coisas que vou pensando, tenho sempre a sensação de que percebem tudo.)

Perguntou a certa altura: - Já pensou em ir para pediatria? Eu respondi que em princípio não queria, mas não deixava de lado a hipótese. Ela disse só: - Devia. É calma e isso é importante para as crianças. Calou-se. Muito depois voltou: - Podia ir para pediatria… é que respira como as crianças. Calou-se.
Fiquei a pensar se é por isso que costumam simpatizar comigo.
As crianças e os bichos.

No fim disse-me poucas coisas. Fiquei a saber que estou com dois meridianos bloqueados. Um deles é o dos intestinos. – Os seus intestinos não estão nada bem. Eu ia responder-lhe com a cara de quem diz que não é verdade (se há coisa resistente em mim são eles). Ela olhou-me com a cara de quem diz que não está a falar disso. E eu mudei a expressão, para aquela de quem vai ouvir apenas. E ela só então falou: - Os intestinos são a casa, a família. É isso que a preocupa. Olhei para o chão e disse: - Eu vou sair de casa mas não sei para onde.

Saí tontinha de contente nem sei porquê.
Passei o dia a cantar esta música.




Uma fotografia que eu gosto mesmo, de Elliott Erwitt.

1 comentário:

Anónimo disse...

Gostei muito do post.
Gostei muito da foto... faz de conta que sou eu a olhar para o Rafael com o Gatito a fazer companhia!