04 janeiro 2008

Enerva-me que falem de África



Enerva-me que falem de África como se:

- Fosse possível falar com conhecimento de causa verdadeiro de 54 países diferentes.
- Fosse possível ter alguma ideia ou definição generalizada correcta sobre mais de 800 milhões de pessoas.

Enerva-me que falem de África como se:

- O caso ficasse arrumado com meia dúzia de exemplos de que a causa da miséria é deles mesmos.
- Aquele continente devesse aos países ricos uma gratidão eterna pela ajuda humanitária.

Mas também me Enerva que falem de África como se:

- Fossem pobres mas felizes.
- As povoações fossem coisas curiosas de ver e de tirar bonitas fotografias.
- As pessoas não tivessem direito a querer as mesmas coisas que nós (telemóveis, por exemplo.)



Obviamente que não pode continuar tudo como está. O que está mal tem de mudar. O que é “curioso” mas humilhante tem de ser reconhecido (aqui lembro-me do outro lado do mundo: Cuba) e transformado.
Obviamente que os povos de África têm de reconhecer os seus erros, têm de mudar de governantes… claro que eles têm culpa. E NÃO há soluções simples.
Mas nós aqui temos a mania de dizer que eles não têm higiene, mas quem causa maior poluição no mundo ainda somos nós. Quem provoca as guerras em grandes escala somos nós (ainda que não as façamos nos nossos países). Quem ajuda (ou não) África por interesse somos nós.
Em última instância, ainda que não tivéssemos responsabilidade nenhuma na pobreza dos outros, não nos deveríamos sentir tranquilos enquanto ela existisse. Seja onde for.

Fotografias do Projecto em S. Tomé e Príncipe 2006, Bússola.

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