03 janeiro 2008

Divertimento universal



No câmara clara Eduardo Lourenço falou de divertimento universal. Da quase obrigatoriedade ao divertimento. De como ele é fácil, afinal entra-nos em casa. É como se tivéssemos de viver num musical permanente.

Lembrei-me de conversas, a propósito do meu sobrinho, sobre o estímulo incessante que as crianças têm. Parece que tudo tem de ser luz e cor, e som. Muitos sons. Todos os bonecos freneticamente ganham novas funções e propriedades, movem-se rapidamente.
Lembrei-me de dizer que os nossos pais se preocupavam muito em nos estimular, e contavam-nos histórias entusiasmantes e efusivas, afinal isso não nos seria dado de outra forma. Depois acrescentei, talvez com o R o nosso papel tenha já de ser diferente, talvez seja mais importante dar-lhe calma, tempo, espaço vazio para ele ser como quiser.



Depois Beatriz Batarda acrescentou:

"Parece que não se suporta o momento da nostalgia, o momento da doçura, o momento, às vezes, da tristeza. Do luto, a propósito da morte. Cada vez mais há esta pressão e esta expectativa de que temos de estar sempre "hype" e porreiras e produtivas e criativas e cheias de energia e jovens, eternamente jovens."

Lembrei como sinto serena os meus mortos. Todos eles. De como foi importante ir aos seus funerais. Nunca me afastaram de os chorar, de os ver mortos, de lhes falar... e falo ainda. Posso não encontrar sentido, mas encontro calma. Companhia. Cuidam de mim e eu sei.
Lembrei como é bom quando nos sentimos bem estando quietos. Como é bom sentir "estou como estou, não tenho obrigação nenhuma de estar como esperam".
Como hoje, a olhar para o mar bravo-muito-bravo, em Espinho.

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