29 fevereiro 2008

FANTAS

Nos últimos tempos tenho-me concentrado mais na qualidade das imagens, na fotografia, na luz, na escolha dos planos. Naquilo que rodeia a personagem (um móvel bonito, uma estante em livros desarrumada, uma casca de árvore, um gorro e folhas secas,...). Às vezes consigo concentrar-me na música, mas tenho tendência para a sentir intensamente e depois esquecer. E quanto mais invulgares e imprevisíveis estas coisas forem, melhor. E com isto não escolho o complexo, normalmente é o simples (e não tenho a pretensão de perceber algo sobre o assunto: Ou me agrada ou não). Olho a representação, os grandes planos nos rostos, o quase-não-trejeito dos olhos, as sobrancelhas, a forma dos lábios ao dizer as palavras.


Innocence é prodigioso em imagens. São as cores. É a luz (como a linha de luz que passa pela fresta da janela e se fixa, de alto a baixo, no corpo nú de Claire quando ainda jovem). É o reflexo de Andreas e Claire, abraçados, no comboio que passa muito rápido e os deixa no apeadeiro. É das casas e dos jardins, que parecem existir mesmo e pertencer àquelas pessoas, como se numa forma inocente de voyerismo assistíssemos a vidas e diálogos reais. Fixei uma ou duas frases


Auftauchen filma dois amantes como eu nunca vi. Em múltiplas cenas de sexo e é quase sempre em planos originais e despudorados, sem entrar no mau gosto (sei que isto é sempre questionável). A verdade é que a vibração nos contagia. Seja pela música, quando dançam, ou quando se ouve apenas respiração. É triste e angustiante. A cara de Nadja (Henriette Heinze) é incrível e conta-nos a história toda com a expressão... muito menos com o que diz.


São dois bons filmes. Um de amantes muito velhos. Outro de amantes muito novos. Ambos deixam duas ideias: Intensidade e Atenção.

Confesso que depois destas imagens todas me apetece um filme que seja essencialmente texto.

Innocence, realizado por Paul Cox
Auftauchen (Breaking the Surface), realizado por Felicitas Korn

Ambos no FANTASPORTO, 28.Fev.2008

1 comentário:

Ana C. disse...

Vi o Auftauchen no Festroia e adorei...ficou entranhado em mim de tal forma que não o consigo esquecer...se souberes onde posso encontrar o dvd por favor avisa!