21 fevereiro 2008

pascácia



Urgência. Há umas semanas atrás. Eu estava no meu primeiro dia. Acompanhava um médico ruivo, de pele clara, de jeito tímido. Russo. Inteligente. Exigente. Concentrado. Uma vez por outra não resistia a um sorriso, mas ficava quase atrapalhado.
Estávamos os dois em frente ao computador. A tentar registar dados de um doente, e o computador estava a demorar uma eternidade a seguir de procedimento para procedimento. Ficámos os dois, caras pálidas, a olhar sem jeito para o ecrã… ainda sem confiança para quebrar o silêncio das esperas. Posso dizer que estávamos pascácios os dois (é uma palavra que aprendi aqui na terça-feira! Quer dizer qualquer coisa como perdidos algures num lugar sem pensamentos, de olhar vago e fixo) Ele suspirou… suspirou dos doentes que ainda havia para ver, das horas que ali são lentas… lentas de muito cheias, de muita informação. Mas eu disse alegre “Este computador é anti-stress!”. Ele olhou para mim naqueles olhos esverdeados, incrédulo ao que eu havia dito. E eu continuei, “é tão lento que mais vale aceitar isso como um facto e aproveitar para descansar um pouco nos intervalos que ele nos dá.”. Ele aí riu-se, sem saber se achar um absurdo o que eu dizia.

Afinal é só uma forma de dar a volta à questão, mas resulta.
Não faz muito sentido criar máquinas tão rápidas que o resultado seja andarmos sempre mais e mais rápido mas sempre a sentirmo-nos impacientemente lentos.

imagem de The Best Photo Books of the Year: Daddy, Where Are You? By Tierney Gearon

1 comentário:

Rosa Negra disse...

"Computador anti-stress" - o Bill Gates é que ainda não se lembrou disso...
Gostei da ideia de aproveitar as pausas, mas a minha impaciência não deixa. :)