15 maio 2008

o erro


Comecei a manhã a ver-lhe só o cabelo cinzento e a ouvir-lhe a voz.
Estávamos muitos numa reunião.
Ele firme. Decidido. Certo do que dizia. Era talvez o médico mais velho na sala. E citava artigos, desafiava velhas práticas, exigia rigor científico.
Alguns mais novos, muito mais novos, indignados suspiravam lamentações “mas eu há anos que faço isso convencida que estou certa e agora vêm dizer que não???!”
E ele continuava, sem ser agressivo, mas sempre sólido.

Continuei a manhã a aprender com ele. Ele explicava-me mas lançava-me às feras:… “Agora vais lá e fazes tudo sozinha”, sem a menor pena ou complacência. Continuava a recusar as explicações aceites, as formas de fazer não questionadas.
E eu aprendia. Ele viu bem a minha insegurança, a minha ignorância, mas acho que também viu que eu queria aprender, e dedicou-se a mim. Respondia sério às minhas mil perguntas e curiosidades, disse que eu escolhia muito bem as palavras para descrever as crianças.

E a certa altura falhou um diagnóstico. E desmoronou… tinha falhado!! E ficou zangado com ele, e reconheceu o erro. E ficou a matutar.

E eu fiquei aterrorizada. No auge da carreira, com imenso estudo ainda, com enorme exigência, com muita atenção… AINDA SE ERRA !?!

(o que me espera...)

4 comentários:

Anónimo disse...

o mesmo! espera-te o mesmo...
joao

Anónimo disse...

O erro é uma possibilidade do agir! ...e não agir pode ser em si um erro :O
Vivendo e aprendendo:)
Cláudia

Anónimo disse...

Enquanto não "amares" o erro nunca serás humana (pai)

palmo_e_meio disse...

O teu pai é muito sábio!
A minha avó, vê lá tu, ainda se engana a fazer pão!
Nada a acrescentar.
:)