05 junho 2008

Melindre


















Não gosto desta palavra. Talvez por conhecer demasiado bem a sensação. Horrorosa sensação.

Melindro-me…
Melindro-me quando ralham comigo. Sempre. A voz dura dá-me vontade de chorar. Olho nos olhos da pessoa, seguro-me, digo que sim. Melindro-me ainda que eu saiba que não tem razão nenhuma (e talvez ela se vá aperceber depois), ainda que saiba que só fala assim comigo porque o dia lhe corre mal, porque está furiosa com outras coisas. Mas melindro-me. Seguro-me.

Melindro-me…
Melindro-me quando as pessoas que admiro começam a dizer mal da vida, do trabalho, dos colegas… quando lhes vejo a desesperança, o desânimo. Apetece-me dizer… “Não, não, não, não a Dra V.!!” Apetece-me segurá-los, abaná-los, dizer “Eu sei que é possível não cair nisso, está a ouvir?? Eu conheço quem tenha sido capaz de escapar.”

Melindro-me...
Melindro-me quando sou desastrada no exacto momento em que acreditei que não o iria ser.

Melindro-me...
Melindro-me quando me dizem que sou misteriosa. Não gosto e não entendo. [ao segundo ano consecutivo de tal óscar, dado pelas directoras do campo de Mocamfe, disse triste "não tenho mesmo nada essa ideia de mim"]


São melhores os dias em que não há este peso. São melhores os dias em que o mau humor, a crítica e o desastre inspiram a gargalhada. São bem melhores os dias em que os Caturrinhas (participantes de 13-14 anos dos campos do Mocamfe) me escolhem o óscar "a mais brilhozinho nos olhos" explicando que é por me rir enquanto falo.


fotografia de Diane Arbus

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