19 novembro 2008

octógono


No meu hospital, as mesas do refeitório são octógonos. Quatro lugares virados uns para os outros, quatro espaços entre cada lugar.
Naquele refeitório propicia-se sempre um almoço acompanhado. Diferentes especialidades, diferentes profissões. Conversa-se, conversa-se sempre. Fica-se a conhecer quem ali trabalha. Discutem-se coisas importantes, troca-se a nossa vida.

No meu hospital almoço muitas vezes com o meu chefe de serviço e tenho à vontade para lhe dizer, se no meio do trabalho está a distraído, “Dr. (..) sente-se aqui ao pé de mim, precisamos discutir este doente desde o início.” [E ele ri-se. E eu penso… hum… este é um sorriso que eu recebo constantemente dos médicos mais velhos com quem trabalho, não sei bem que significado tem. Talvez qualquer coisa como “É atrevida esta miúda, mas como tem graça vou lá ver o que ela quer.”]

No meu hospital já recebi um olhar preocupado “Não estás com bom ar hoje, se te sentires explodir avisa-me, sim?”

No meu hospital quando o doente entra pela porta da urgência a probabilidade de ser conhecido pelos médicos é bastante grande… é alguém que já viram noutras urgências, que já tiveram na sua equipa de internamento, que acompanham na consulta, ou que já viram lá pelas enfermarias. Evitam-se muitos gastos em investigações repetidas. Medicina de proximidade.

No meu hospital já ouvi “A medicina deve ser exercida com CALMA, com muita CALMA.” e “Cada médico devia ter poucos doentes para se ocupar com muito cuidado de cada um, nada disto que se insiste fazer da medicina.” ou “As pessoas ainda não perceberam que sem sistema básico de saúde, sem a medicina familiar, não se vai a lado nenhum… tapamos buracos!”.

No meu hospital uma médica especialista gosta de mexer no meu cabelo, brinca apenas com ele, distraída às vezes, sempre com carinho.



Pode ser que feche. Ninguém sabe.
Constrói-se e destrói-se em Portugal.
Faz-se obras, remodela-se tudo, investe-se em equipamento e… manda-se fechar em Portugal. Pior… faz-se com que morra lentamente em Portugal (causa menos contestação).
Somos um país de ricos nós.

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