17 agosto 2010

Intermitências



Quando chegaste às minhas camas eu já tinha ouvido falar de ti.
Super-mulher, com um AVC enorme há poucos anos... Depois de nem um movimento se perfilar num dos lados do teu corpo, recuperaras totalmente.
Agora um novo AVC, do outro lado do cérebro. Tão enorme como o primeiro.
Desta vez é que te quebrarias, pensámos.

E, nunca mais falaste, nunca mais mexeste, tiveste todas as complicações dos internamentos. Sempre mal, sempre a respirar mal...
No teu olhar sempre dureza, sempre fortaleza. Fujia dele. Incapaz de falar como falo com outros doentes que não falam. Sempre muito sóbrias e contidas, nós as duas.

Disseram-me muitas vezes que te mantinhas viva por minha causa. Sugeriram que parasse... mas eu já havia parado há algum tempo com todas as medidas heroicas, com a repetição das análises, com os antibióticos... terminava sempre os diários em "mantêm-se cuidados de conforto". Mas afligia-me, todos os dias lá estavas rija, agarrada à vida. E eu sem perceber porquê... mas não podia deixar-te, pois não? Todos os dias, as duas, só as duas.

Morreste no meu primeiro dia de férias.
E eu a ler o "Intermitências da morte".
Continuo sem perceber o que se passou, nem o que querias tu. Chateia-me não sentir o alívio que costumo sentir nestas situações.
Tens nome de sofrimento, nome de lição de vida.

1 comentário:

Anónimo disse...

tu és muito linda...

beijo da songa