02 fevereiro 2012

Saltos

Tive a sorte de me cruzar com um internista que sabe muito.
Esse internista também sabe ser intratável, é um facto.
Mas ele simpatizou connosco, sentava-se muitas vezes à nossa beira só para conversar. Bom humor, boas comidas, bons vinhos. Até deixou de pegar connosco.
Ensinou-me duas coisas que não queria esquecer:

1) "Mais vale estar doente do que ter um mau médico."
Parece lógico, mas responsabiliza-nos e disse perfeitamente o maior medo que eu tenho... fazer-lhes mal!

2) Escreveu no início da profissão, no seu curriculum, uma coisa com a qual, no fim de carreira, continua a concordar: "Ser internista é a medida do meu desafio intelectual. Agora não estou certo de gostar de ser internista, nem tão pouco de gostar de ser médico".
Fiquei estática. Como é que alguém tão competente, que sempre se aplicou tanto para saber tratar os doentes, que escolheu a área dos doentes mais graves, pode ainda ter dúvidas sobre se gosta daquilo... Ganhou uma dimensão muito mais humana, e fiquei com menos medo das minhas dúvidas.


Uns dias depois andei aos saltos por estas pedras na praia dos Lavadores, feliz a renovar votos em voz alta e a sentir por dois dias que ser médica não tinha importância nenhuma!

1 comentário:

Anónimo disse...

Pai diz.
"Ser documentalista é a medida do meu desafio intelectual. Agora não estou certo de gostar de ser documentalista".
... sobretudo quando se olha em volta (ou para trás)e se avalia quantas outras coisas igualmente boas se poderia ter sido.

Mas isto só me faz sentir bem. Mostra-me que seria capaz de ser bom em outras coisas como sou NESTA. E só tenho uma vida.